Destaque - 15/06/2021

Pesquisa mostra mulheres ainda longe do comando de companhias abertas

Por Juliana Schincariol — Do Rio

15/06/2021 05h01 · Atualizado há 3 horas

As mulheres são minoria tanto nos conselhos quanto nas diretorias das empresas de capital aberto no Brasil. Há setores em que não há nenhuma representante feminina no topo das diretorias executivas, caso de papel e celulose e de agricultura, açúcar e álcool. Os números são resultado de um levantamento da MZ Group, que analisou os formulários de referência mais recentes de 250 empresas com ações negociadas. Os documentos foram entregues até maio passado e se referem ao ano de 2020.

Esta foi a segunda edição do estudo da MZ, que ficou mais robusto em relação ao ano passado, conta o diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Cássio Rufino. A MZ fornece soluções para as áreas de RI. O estudo levou em conta a primeira versão do documento entregue pelas companhias e não considerou alterações.

“Ao longo do último ano, tivemos a percepção de que a participação de mulheres seria maior, o que não foi constatado pelo estudo”, disse o executivo. Além de nomes femininos já conhecidos do mercado, como o da presidente do conselho da Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, outras executivas chegaram às empresas abertas, caso da conselheira Rachel Maia, do Grupo Soma.

O setor com a maior quantidade proporcionalmente de mulheres na diretoria executiva é o de participações e investimentos, com 31% do total. O segundo maior, de 22%, é o de exploração de imóveis. Nos outros 19 setores analisados, pelo menos 80% da alta administração é composta por homens.

Nos conselhos de administração, o maior percentual feminino, de 24%, é no ramo de telecomunicações, e o menor, de 7%, ocorreu em papel e celulose e também em agricultura, açúcar e álcool. A maior participação feminina em um setor é no conselho fiscal, de 36% entre as empresas de educação, seguido por telecomunicações com 30%. No setor de aluguel de veículos não há mulheres no conselho fiscal, e em tecnologia, elas estão só em 3% dos quadros.

Na visão de Rufino, aspectos ligados à diversidade e também à remuneração de executivos não impactam diretamente na decisão de investidores, mas o crescimento de preocupações relacionadas aos critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) começam a mudar o quadro.

Em paralelo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) propõe uma reforma nas regras do formulário de referência, com maior divulgação sobre diversidade nas companhias, inclusive racial, e remuneração. A audiência pública ainda está em andamento, mas mesmo antes de entrar em vigor já há um movimento das companhias por uma divulgação maior quanto a estes critérios, de acordo com Rufino. “Com o aumento dos CPFs na bolsa, as empresas estão se adaptando muito rápido, querendo mostrar ao mercado seus valores”, disse o executivo.

Rufino lembrou que o estudo é um relato de um ano de pandemia e disse que os resultados foram bons mesmo em meio à crise. Ele frisou que não houve demissões em massa e o nível de rotatividade nas empresas se manteve em linha com o ano anterior. Segundo o estudo, mais de 60% das 250 empresas acompanhadas distribuíram dividendos, obrigatórios ou não.

Link da reportagem no Valor Econômico.