Monitoramento de Mercado - 15/05/2020

O Novo Normal em Relações com Investidores

Muito se fala sobre o “novo normal” pós pandemia, sobre as novas formas de interações humanas, de trabalho remoto e tanto mais. Mas e no nosso dia-a-dia em relações com investidores, o que irá mudar?

Apesar de ainda ser cedo para prever todos os impactos, já podemos antecipar algumas mudanças que devem permanecer mesmo depois da crise, como:

Conferências e Roadshows Virtuais:

O modelo tradicional de conferências e reuniões 1-on-1 com investidores vai demorar para acontecer novamente, seja por restrições de viagens ou por prolongamento de medidas de distanciamento social. Por mais que a tecnologia para roadshows virtuais já exista há muito tempo, grande parte dos investidores ainda preferiam discutir estratégia com o management em reuniões presenciais. Diante da crise, essas barreiras foram rompidas, a comunicação virtual cresceu e a tendência é que permaneça assim. Com a economia em hotéis, os bancos podem fazer esses eventos com muito mais frequência, e com a redução de custos de viagens as empresas menores também podem participar. Isso sem contar na economia de tempo de deslocamento, que permite incluir o C-Level nas chamadas. Por fim, entendemos que no longo prazo a tendência será migrarmos para um modelo híbrido entre reuniões presenciais e virtuais, mas quando se trata de comunicação, quanto mais opção, melhor.

Investor Days Virtuais:

Todo RI sabe o trabalho de organizar um bom Investor Day – deslocar investidores para plantas remotas, demonstrar a produção e incluir toda a alta gerência para apresentar a empresa em profundidade, para garantir que os investidores estejam comprometidos com a estratégia de longo prazo. Agora imagine tirar todo o transtorno logístico e oferecer a experiência com bons vídeos, inclusive com trechos curtos gravados para enviar para a base completa de acionistas. Perguntas lidas com antecedência, entrevistas com gestores e tudo mais que a tecnologia permite. Investor Days virtuais são uma excelente oportunidade para o RI apresentar a companhia e engajar os stakeholders.

Webinars educativos e eventos de RI:

Os principais eventos para o nosso mercado, como o encontro anual do IBRI, do NIRI e do IBGC foram postergados ou alterados em seu formato original. Por mais que o network físico seja incomparável, temos que lidar com a nossa realidade e manter o diálogo ativo usando as ferramentas disponíveis – fóruns de discussão, grupos de whatsapp, webinars e lives com especialistas mantém os profissionais de relações com investidores próximos e trocando experiências valiosas.

Comunicação constante e transparente:

De um dia para outro o mundo mudou, e mesmo com um futuro incerto os RIs se viram na obrigação de descrever o impacto da pandemia no curto, médio e longo prazo em releases e fatos relevantes. Diante disso, a melhor opção é manter uma comunicação constante, sendo transparente sobre os resultados imediatos mas com foco no crescimento no longo prazo, na qualidade do time, em investimentos em tecnologia e tudo mais que tornam a empresa um bom investimento. Existem muitos formatos de incrementar o diálogo, o que vimos até agora foram: Vídeos curtos do C-Level com uma comunicação simples para o investidor pessoa física que está, de forma compreensível, assustado com seus investimentos. Outros optaram por releases semanais com atualizações da crise em suas operações, impacto em vendas e cadeia de suprimentos e ainda tiveram os que criaram um “hub Covid” na própria home de RI do site para concentrar toda a comunicação sobre o tema. Nesse hub vemos materiais como mensagem do CEO para clientes, funcionários e fornecedores, parcerias com antigos rivais para ações filantrópicas, alteração do guidance anterior para investidores, entre outros, Seja como for, é hora de aumentar a transparência e o diálogo, mantendo essa rotina mesmo depois da crise.

Assembleia Digital: 

Por ser um rito tão relevante para as empresas listadas, as assembleias foram um desafio a ser repensado. Os órgãos reguladores tiveram que agir de forma rápida e eficiente para testar e validar tecnologias que atendessem aos principais pontos necessários, como segurança na identificação dos acionistas, no recebimento de documentos, transmissão do evento, controle de entrada e contagem de votos. Além disso, previsão de que o sistema a ser utilizado pela companhia possibilite a comunicação entre os acionistas e que o presidente da mesa e o secretário registrarem em ata a presença dos acionistas que participarem a distância. O bom disso é que uma vez que esse novo modelo seja testado e validado, as empresas possam oferecer uma opção de convocação totalmente ou parcialmente digital, e assim atrair a presença de mais acionistas para suas assembleias.

Foco em gestão de riscos e ESG:

Boa governança corporativa é crítica em qualquer período, mas muito mais em épocas como a atual. Vemos que as empresas que ainda não tinham estabelecido um comitê de crise já se atualizaram, e isso passa desde o conselho e permeia toda a companhia. São muitas as atuais preocupações, mas as ações devem sempre ser coordenadas. Por exemplo, as empresas que focaram unicamente na questão econômica arriscando a saúde dos funcionários tendem a ter uma reputação abalada no longo prazo diante dos consumidores. Já as que tiveram maior foco no social e souberam comunicar isso bem, podem atrair novos investimentos. ESG ganha cada vez mais força, pois vemos que as empresas que já tinham seus riscos bem mapeados tendem a se recuperar mais rapidamente que seus pares.O RI deve ser bem próximo do C-Level nesse momento, para comunicar de forma clara a estratégia da companhia, aumentando a geração e preservação do valor da organização.

– Amanda Munhoz, sócia MZ