Monitoramento de Mercado - 23/05/2018

Management que influencia a percepção de valor

Qual é a capacidade de influenciar na percepção de valor e risco dos principais executivos de RI de sua Companhia?

Ainda são poucas as companhias que possuem executivos conscientes e preparados para influenciar na percepção de valor e risco de suas companhias. A regra geral das companhias que investem no relacionamento com seus investidores e o mercado de capitais de um modo geral ainda é muito concentrada nas ferramentas de comunicação, como websites de RI, earnings releases bem escritos e com conteúdo analítico, relatórios anuais em formatos inteligentes e com informações realmente materiais e em linguagem que facilite a compreensão, entre outras.

Entretanto, minha experiência me permite assegurar que grande parte do valor e do risco percebido por analistas depende da interação dos principais executivos e de seus recursos para fazê-los compreender ativos intangíveis que não são passiveis de expressar nas ferramentas de comunicação usuais. Aqui estou falando de atributos que impactam aspectos emocionais e que somente podem ser comunicados pela interação humana, tais como segurança, competência, honestidade, interesse legitimo na prestação de contas, comprometimento, atenção verdadeira nas mudanças do ambiente e no aprendizado contínuo, entre outros.

Nesse sentido permitir o acesso integral aos executivos-chave num momento tão importante como a divulgação de resultados tem se tornado muito relevantes. Chamo de acesso integral a algo equivalente a uma reunião presencial, onde o investidor aguça todo o seu sistema sensorial para “sentir” o executivo e ficar passível de influência das mensagens que lhes são transmitidas. Importante ressaltar que sentido a que me refiro é tudo aquilo que é percebido pelo nosso sistema nervoso central a partir do estímulo de células capazes de converter sinais químicos ou físicos em eletricidade que percorrem os neurônios e chegam até o cérebro. Não quero me aprofundar aqui, mas me refiro àquela teoria das Duas Formas de Pensar: Rápido e Devagar (Thinking, Fast and Slow), que rendeu um Prêmio Nobel a Daniel Kahneman e Amos Tversky e que nos levou a uma turnê inovadora da mente e que colocou em xeque a ideia de que a nossa tomada de decisões é essencialmente racional.

Pois bem, nesses momentos são importantes gestos, tom de voz, o olho-no-olho, a tranquilidade do semblante e outros recursos de atitudes e visuais que podem influenciar à cognição do investidor/analista.

E recentemente tivemos dois eventos importantes e que buscam fazer uso de recursos que buscam um novo patamar de engajamento, um internacional e outro local.

O evento internacional foi a badalada Assembleia Anual da Berkshire Hathaway que, em transmissão via Web, colocou seus dois principais executivos Warren Buffet e Charlie Munger para interagir com seus acionistas de todo o mundo. Um assédio semelhante a pop stars do mundo musical e que os colocou diante do monitor prestando esclarecimentos e satisfazendo curiosidades por mais de sete horas. Isso mesmo, sete horas de transmissão (áudio e imagem) que pode ser visto neste link.

O evento local foi o pioneiro evento da Gol, onde seus principais executivos tiveram o cuidado e a atenção de gravar um vídeo (português e inglês) explicando os resultados do primeiro trimestre e esclarecendo dúvidas de investidores, o qual foi postado em seu website de RI juntamente com todos os demais materiais de divulgação (earnings release, DFP, apresentação, etc.). Ou seja, os investidores puderam ver e ouvir os comentários dos principais executivos antes mesmo da teleconferência que ocorreu no dia seguinte e que pode dedicar mais tempo para a sessão de perguntas & respostas (Q&A session). Uma clara demonstração de comprometimento dos executivos e consciência da missão que possuem em personificar a capacidade de criação de valor e de influenciar no risco percebido de suas decisões e ações na condução dos negócios. Essa rica inciativa pode ser conhecida neste link.

Faço votos que mais e mais companhias e executivos tomem iniciativas semelhantes, pois suas interações e acessibilidade podem permitir uma significativa melhoria da correta percepção dos resultados, bem como permitir ao management  “dar o tom”  adequado na leitura dos indicadores e alinhar expectativas. Observe que, além de dar amplo acesso aos principais executivos por toda a base de acionistas, esse novo padrão de comunicação permite humanizar o relacionamento com todos investidores e também de “tangilizar” importantes atributos dos profissionais, como profissionalismo, seriedade, competência, disposição ao diálogo e a prestação de contas.

Originalmente publicado por Valter Faria